A melhor praia do brasil segundo atletas, surfistas e viajantes apaixonados por esportes

A melhor praia do brasil segundo atletas, surfistas e viajantes apaixonados por esportes

Quando se pergunta a um brasileiro qual é a melhor praia do país, a resposta costuma vir carregada de memória afetiva: a infância no litoral do Nordeste, a primeira onda surfada no Sul, o pôr do sol inesquecível no Sudeste. Mas quando a pergunta é feita a atletas, surfistas profissionais e viajantes que organizam as férias em torno de corridas, trilhas ou campeonatos, o critério muda. A conversa deixa o campo da nostalgia e entra em terreno mais objetivo: qualidade das ondas, estrutura para treinar, acesso a trilhas, vento para esportes de prancha, logística e até impacto ambiental.

Nessa perspectiva mais esportiva, um nome aparece de forma quase unânime nas conversas que acompanho há anos como jornalista: Fernando de Noronha, em especial a combinação Baía do Sancho + Cacimba do Padre. Tecnicamente são praias diferentes, mas na prática formam um mesmo cenário de jogo para quem respira esporte.

O que faz uma praia ser “a melhor” para quem vive esporte?

Antes de olhar para Noronha, vale organizar os critérios que atletas e viajantes costumam usar quando escolhem uma praia “ideal”:

  • Qualidade e constância das ondas para o surf e bodyboard;
  • Extensão de faixa de areia para correr, caminhar ou treinar;
  • Possibilidades de trilha em morros, falésias ou costões próximos;
  • Condições de vento para kitesurf, windsurf, wing foil e vela;
  • Temperatura e visibilidade da água para natação, mergulho livre e cilindro;
  • Impacto ambiental controlado, com número limitado de pessoas e preservação do ecossistema;
  • Estrutura mínima: segurança, acesso, água, alimentação;
  • Ambiente esportivo: presença de outros atletas, escolas de surf, aluguel de equipamentos.

Quando você cruza esses fatores, a lista de candidatas naturalmente se afunila. Praias como Maresias (SP), Joaquina (SC), Praia do Rosa (SC), Jericoacoara (CE) e Pipa (RN) surgem com força. Mas é em Fernando de Noronha que quase todos esses pontos se encontram com uma intensidade rara.

Por que Noronha entrou no radar dos atletas

Fernando de Noronha começou a ganhar projeção esportiva no surf brasileiro a partir dos anos 1990, quando campeonatos nacionais e etapas de circuitos começaram a explorar a potência das ondas da ilha. A fama se consolidou com a Cacimba do Padre, muitas vezes chamada de “Pipeline brasileira” pelos tubos pesados que lembram a clássica onda do Havaí.

Em entrevistas ao longo das últimas décadas, surfistas como Gabriel Medina, Ítalo Ferreira, Carlos Burle e tantos outros já definiram Noronha como “um paraíso” e “um dos melhores picos do mundo” para quem busca ondas fortes e cenário espetacular. A ilha virou ponto de encontro em pré-temporada, lugar para ajustar linha, treinar tubo e ganhar confiança em ondas pesadas.

Ao mesmo tempo, o outro lado da ilha, voltado para o mar de dentro, começou a atrair mergulhadores, nadadores de águas abertas e triatletas em busca de um laboratório natural: água quente, visibilidade acima da média e vida marinha abundante.

Em 2014, a Baía do Sancho começou a figurar com frequência em rankings internacionais de melhores praias do mundo, o que trouxe mais turismo – mas também reforçou o controle ambiental e a limitação de visitantes diários, um fator que hoje pesa positivamente para quem valoriza experiências menos massificadas.

Baía do Sancho: cartão-postal com função de “laboratório”

A Baía do Sancho é, à primeira vista, aquele cartão-postal que você espera ver em protetor de tela: água em tons de verde e azul, paredões de rocha, faixa de areia relativamente curta e acesso controlado por passarelas e escadas. Só que, para os amantes de esportes, a praia vai além da estética.

Do ponto de vista físico, a baía oferece:

  • Água calma na maior parte do ano, ideal para natação, stand up paddle e snorkel;
  • Visibilidade impressionante em dias de mar limpo, permitindo nadar observando tartarugas, peixes e arraias;
  • Faixa de areia suficiente para tiros curtos de corrida na praia, aquecimento e exercícios funcionais;
  • Subida de escadas e trilhas desde o platô até a praia, que muitos atletas usam como complemento de treino.

Há triatletas que organizam “ciclos” de treino em Noronha, combinando pedal na estrada principal da ilha, corrida leve em praias como Boldró e Conceição e sessões de natação na Baía do Sancho ou na Praia do Porto. A diferença em relação ao treino urbano é óbvia: o estímulo visual e mental é outro. Não é raro ouvir deles que “os quilômetros parecem mais curtos” quando o cenário é aquele.

Além disso, o controle de visitantes e a fiscalização ambiental reduzem o volume de barulho, lixo e aglomeração. O resultado é uma experiência de treino quase sempre mais tranquila e segura, principalmente para quem corre ou nada sozinho.

Cacimba do Padre: o “campo pesado” dos surfistas

Se a Baía do Sancho é o cartão-postal laboratorial, a Cacimba do Padre é o estádio de jogo grande. De dezembro a março, dependendo da temporada de swell, a praia se transforma em um dos picos mais temidos – e desejados – do país.

Algumas características ajudam a explicar essa fama:

  • Ondas potentes e tubulares, com séries grandes em boa parte do verão;
  • Fundo de areia, mas com pressão de água que exige condicionamento físico e técnica apurada;
  • Formato da baía, que canaliza o swell e cria ondas com boa parede para manobras e tubos;
  • Ambiente de alto nível técnico, frequentemente com presença de surfistas profissionais em treino.

É comum ver vídeos de pré-temporada em que atletas do circuito mundial escolhem Noronha para ajustar o timing de tubo. Mesmo sem entrar no mar, caminhar pela areia da Cacimba em dias grandes é quase uma aula ao ar livre: dá para observar posicionamento, leitura de série, escolha de onda, tudo ali, a poucos metros.

Para surfistas intermediários ou iniciantes, a recomendação geral dos locais e instrutores é clara: respeitar o mar, escolher dias menores, estar sempre acompanhado e, idealmente, treinar antes em praias de ondas mais suaves. Noronha não perdoa excesso de confiança.

Outros esportes em Noronha: muito além da prancha

Reduzir Noronha a um destino de surf é ignorar um conjunto de possibilidades esportivas que a ilha oferece:

  • Mergulho com cilindro: naufrágios, paredões e vida marinha densa fazem do arquipélago um dos principais polos de mergulho do Brasil. Agências locais oferecem batismo e mergulhos certificados;
  • Snorkel e apneia: Praia do Atalaia, Baía dos Porcos e Porto de Santo Antônio são alguns dos pontos em que é possível ver grandes cardumes e tartarugas em águas rasas;
  • Corrida de rua e trilhas: a estrada principal, com subidas e descidas, serve de pista natural para quem treina corrida. Trilhas oficiais, como as que levam ao Sancho e à Baía dos Porcos, funcionam como complemento de treino funcional, com uso de escadas, passarelas e trechos em terra batida;
  • Vela e esportes a remo: em períodos de mar mais calmo, é possível remar de caiaque, SUP e, em algumas ocasiões, velejar, sempre com operadores locais.

Essa diversidade agrada viajantes que costumam combinar férias e preparação física. É comum encontrar casais em que um é surfista e o outro prefere trilhas e snorkel, ou grupos em que parte faz mergulho e parte treina corrida. A ilha acomoda todos.

Ambiente esportivo: bastidores de uma ilha que respira atividade física

Nos bastidores, Noronha funciona quase como uma pequena vila esportiva ao ar livre. Instrutores de surf, guias de mergulho, marinheiros, fotógrafos aquáticos e funcionários do parque marinho convivem com temporadas rotativas de atletas profissionais, amadores avançados e viajantes em busca de experiências ativas.

Esse ambiente cria uma cultura particular. É comum ver pranchas nas fachadas das pousadas, bicicletas em uso constante, grupos organizando caronas até as praias de manhã cedo e jantares em que o assunto gira em torno de swell, correntes, tempos de nado e trilhas do dia seguinte.

Para quem gosta de esporte, isso faz diferença. O simples fato de estar em um lugar onde acordar cedo para treinar não é exceção, mas quase regra, ajuda na disciplina. A sensação é de estar “no clima” certo.

Quando ir: temporadas de surf, mergulho e treino

Escolher a melhor época para ir a Noronha depende do seu esporte principal:

  • Surf de ondas grandes: entre dezembro e março, com pico de swells no verão. É quando a Cacimba do Padre e outras praias de mar de fora recebem ondulações mais fortes;
  • Mergulho e snorkel: condições boas ao longo do ano, mas muitos mergulhadores preferem os meses de setembro a novembro, quando a visibilidade costuma ser ainda melhor e o mar tende a ficar mais calmo;
  • Natação em águas abertas e SUP: em geral, entre agosto e novembro há maior chance de mar mais liso no mar de dentro, facilitando treinos mais longos;
  • Turismo esportivo “multimodal” (um pouco de tudo): abril, maio, setembro e outubro costumam ter equilíbrio interessante entre menos movimento, preços ligeiramente mais baixos e boas condições gerais de clima.

Independentemente da época, a recomendação é a mesma: acompanhar a previsão de mar e vento nos dias anteriores, conversar com instrutores locais e respeitar os limites de segurança.

Quanto custa viver esse “paraíso esportivo”?

Noronha tem fama – justificada – de destino caro. Isso é um ponto importante na escolha da “melhor praia do Brasil” do ponto de vista prático. Para muitos atletas amadores, o custo é um fator tão relevante quanto a qualidade da onda.

Algumas referências gerais (os valores variam com câmbio, inflação e temporada):

  • Taxas obrigatórias: há a TPA (Taxa de Preservação Ambiental), cobrada por dia de permanência, e a taxa de acesso ao Parque Nacional Marinho, válida por alguns dias e necessária para acessar praias como Sancho e Sueste;
  • Hospedagem: pousadas simples chegam a sair por valores próximos aos de hotéis urbanos de médio padrão em capitais brasileiras, enquanto pousadas de alto padrão atingem faixas significativamente mais altas, especialmente em feriados e alta temporada;
  • Alimentação: refeições em restaurantes variam bastante; há do prato feito mais em conta ao menu degustação sofisticado. Alternar entre mercados locais e restaurantes ajuda a equilibrar o orçamento;
  • Atividades esportivas: aulas de surf, batismos de mergulho e passeios de barco têm preço compatível com outros destinos turísticos de mar, mas o custo final se acumula em viagens longas.

Por outro lado, quem planeja a viagem com foco em esporte geralmente passa boa parte do tempo em atividades ao ar livre que, depois das taxas iniciais, não exigem pagamento adicional: correr, nadar, caminhar, observar o mar, explorar trilhas oficiais. Isso ajuda a diluir o custo por hora de experiência.

Roteiro esportivo básico de 3 dias em Noronha

Para quem pensa em conhecer esse “laboratório a céu aberto”, um roteiro possível, sempre adaptável ao nível físico e às condições do mar, poderia ser:

Dia 1 – Adaptação e mar de dentro

  • Manhã: caminhada leve e treino curto de corrida entre as praias da Conceição e do Meio;
  • Tarde: natação tranquila ou snorkel na Praia do Porto ou na Baía do Sueste, com observação de tartarugas;
  • Fim de tarde: alongamento e contemplação do pôr do sol no Forte ou na Praia do Boldró.

Dia 2 – Sancho e trilhas

  • Manhã: visita à Baía do Sancho, entrada no mar para nado em área segura, explore com snorkel (sempre atento às orientações dos guardas-parque);
  • Subida das escadas e caminhada pelas passarelas até os mirantes, trabalhando perna e condicionamento;
  • Tarde: passeio leve até a Baía dos Porcos, com observação do Morro Dois Irmãos;
  • Noite: descanso – Noronha cobra do corpo.

Dia 3 – Cacimba do Padre e mar de fora

  • Manhã: se o mar estiver amigável ao seu nível, sessão de surf ou bodyboard na Cacimba do Padre (sempre com orientação local);
  • Alternativa: caminhada longa pela areia, observando os surfistas e analisando a dinâmica das ondas;
  • Tarde: opcional de mergulho de batismo ou passeio de barco para ver golfinhos, dependendo do orçamento e da disposição.

Esse tipo de roteiro, bem distribuído entre intensidade e contemplação, ajuda a entender por que tantos atletas e viajantes apaixonados por esporte elegem Noronha como destino favorito.

A melhor praia do Brasil… depende do seu jogo

Do ponto de vista estritamente esportivo, somando qualidade de ondas, possibilidades de treino em diferentes modalidades, controle ambiental, cenário e atmosfera, Fernando de Noronha – com a dupla Baía do Sancho e Cacimba do Padre como símbolos – tem argumentos fortes para ser chamada de “a melhor praia do Brasil” por quem vive o esporte no dia a dia.

Isso não significa que praias como Maresias, Joaquina, Praia do Rosa, Pipa ou Jericoacoara fiquem para trás. Cada uma delas é, em seu contexto, a melhor para um tipo específico de prática, de nível técnico e de orçamento. Maresias é referência em alto rendimento e formação de talentos no surf. A Joaquina é laboratório clássico de campeonatos. O Rosa combina trilha, lagoa e mar de uma forma quase única. Pipa e Jeri oferecem vento, ondas e um ecossistema esportivo próprio.

Talvez a verdadeira pergunta não seja “qual é a melhor praia do Brasil?”, mas “qual praia encaixa melhor com o seu momento esportivo?”. Se a resposta envolver ondas fortes, trilhas, mergulho, natação em mar aberto e um ambiente em que o esporte faz parte do cotidiano, é difícil fugir de Fernando de Noronha como candidata principal.

No fim, o que atletas, surfistas e viajantes apaixonados por esporte parecem buscar é menos um ranking absoluto e mais um lugar onde o corpo possa ser testado, a mente possa descansar e a natureza imponha respeito. Nesse jogo, Noronha ainda está alguns pontos à frente.